Advertisement

Main Ad

Que Sabe Ser Brasileiro


As origens palmeirenses, ou palestrinas como prefiram, são inegáveis e de muito valia para as bases do clube e de sua torcida. Afinal, no início do século XX foram imigrantes italianos, aliados a brasileiros não xenofóbicos, que fundaram as bases do que viria a ser o Palmeiras. E é sobre essa origem que queremos falar e trazer uma discussão.

O palmeirense sabe o porquê da mudança de nome do clube, os motivos que levaram o Palestra Itália a se tornar o Palmeiras. Conhecem bem a "Arrancada Heroica", esse é um episódio que gostamos de recordar, pois além do título vimos frustrar as tentativas do inimigo de se apoderar de nossas posses. O totalitarismo que obrigou a mudança de nome, embasado na xenofobia com migrantes da classe operária, viu surgir o alviverde imponente, maior campeão nacional e que sabe ser brasileiro.

Talvez por isso nós, os palmeirenses, gostamos de provocar e usar termos em nosso cotidiano que remetam ao passado palestrino e às origens italianas. A começar pelo próprio termo “Palestra”, muitos de nós referem-se assim ao falar do verdão ou da nossa casa. Outro termo que ficou famoso nas arquibancadas é o "Avanti, Palestra!", ou ainda sua expressão completa: "Avanti, Palestra! Scoppia che la vittoria è nostra", popular na década de 1920 e resgatada por Paulo Nobre, quando era vice-presidente na gestão do Della Monica, em 2008. Por falar nisso, muitos cartolas têm sobrenome que descende do país europeu, assim como boa parte da nossa torcida.

Porém, como bem disse Zé Roberto, em sua emblemática preleção de 2015, o Palmeiras é gigante, não só em estrutura, títulos ou presença da marca em todo o país (e mundo!), mas também em número de torcedores. Se o Palmeiras fosse um país estaria entre os 75 mais populosos do globo, acima de repúblicas como Bolívia, Bélgica, Cuba, Portugal e Suécia, com nossos mais de 12 milhões de aficionados. E por sermos grandes, ou melhor, gigantes, somos diversos e diversificados, não somos formados apenas por netos da “nonna” e “Tonis Gordos”. Por exemplo, em 2019 a TV Palmeiras exibiu uma matéria sobre indígenas Mehinako, do Parque do Xingu, que torcem para o alviverde. Teve também os Kariri-xocó, de Xavantina-MT, que viajaram para assistir um jogo contra o Sampaio Correa e na sequência o Palmeiras levou 21 torcedores palmeirenses da mesma aldeia para conhecerem o estádio em São Paulo. Ou a família de Elizabeth, Eliane e Larah, no Quilombo de Cajueiro, na cidade de Alcantara, no Maranhão. Esses exemplos de palmeirenses genuinamente brasileiros e com perfil que a TV não mostra - já que nos estereotipa como a "italianada" da Moca ou do Bixiga - bem como aqueles que vivem no sertão, nas favelas, nas comunidades ribeirinhas ou nas palafitas, talvez não se sentem representados por slogans como o "Avanti, Palestra! Scoppia che la vittoria è nostra" ou qualquer outro termo que remeta a Itália tão distante dos tupiniquins. O Palmeiras deve sim recordar e preservar sua origem operária de imigrantes italianos de diversas regiões do país da bota, muitos anarquistas e socialistas, muitos que davam a cara a tapa contra o fascismo, principalmente aquele que tentava rodear o Clube. Esses bravos antepassados de nossa história merecem respeito e serem lembrados, sobretudo por sua posição antifa.

No entanto, o excesso de "italianismo" em nossas fileiras pode nos afastar de um Palmeiras que sabe ser brasileiro. As diferentes torcidas do clube, seja geograficamente o etnicamente falando, também devem ser representadas. Se os italianos foram alicerce, os brasileiros foram colunas que mantiveram o legado e fizeram do modesto clube um dos mais populares do país.

Longe de mim querer forçar um nacionalismo de jura de amor a bandeira dos Orleans e Bragança. Patriotismo excessivo é um dos pilares do fascismo. O que se pede é um verdão brasileiro como seu povo, miscigenado pelo italiano imigrante, pelo negro, outrora rei e escravizado em um novo continente, pelos fugitivos de guerras em busca de um solo de paz e de novas oportunidades e principalmente por aqueles que se identificam com o clube, sua trajetória, escudo e cores sendo livre para suas escolhas e para demonstrar sua paixão.